A carta à igreja em Laodicéia, não é morno nem frio.

12/12/2015 15:34

    Por: Ricardo Moreira Braz do Nascimento

O livro de apocalipse nos trás uma série de cartas às igrejas da Asia Menor, todas estas igrejas com suas qualidades e defeitos, e que são carinhosamente tratadas por Deus em cada uma das cartas. A igreja de Laodicéia (Apocalípse 3:14-22) será alvo de apreciação neste ensaio e, especialmente a metáfora da água morna e fria utilizada por Deus para determinar a situação espiritual desta igreja.

Laodicéia é o destino da última carta, que diferente das outras igreja não recebe nenhum elogio. Laodicéia era situada à margem do rio Lico e ficava na encruzilhada de três estradas imperiais que atravessavam a Ásia Menor, fator este que contribuiu para o forte desenvolvimento da cidade. Laodicéia foi fundada pelo rei selêucida Antíoco II Teos, e recebeu seu nome em honra do Laodice, a esposa do rei. Nos dias de João a cidade era um centro comercial próspero que se especializava na produção de malhas de lã. Ficava a poucos quilômetros das cidades do Colossos e Hierápolis. Três fatos sabemos acerca da cidade e que ajudarão a entender esta carta:

  1. era um centro bancário de fabulosas reservas financeiras;

  2. as indústrias principais eram de tecidos e tapetes de lã;

  3. possuía também uma faculdade de medicina.

A cidade de Laodicéia era muito grande e rica, tão rica que em 60 d. C. foi quase totalmente destruída por um terremo e, seus cidadão dispensaram a ajuda de Roma e reconstruíram a cidade com recursos próprios. Esta igreja não era acusada de imoralidade, nem de idolatria, nem tão pouco de notória apostasia, de igual modo não possuímos registro de perseguição contra a igreja em Laodicéia. A terrível condenação que estava sobre ela era devido ao orgulho e autossatisfação, do elemento pagão dentro da igreja de modo que sua comunhão com Cristo se enfraqueceu tragicamente. A severa descrição da sua condição espiritual (Ap. 3:17) e a admoestação ao arrependimento (Ap. 3:18), são apresentados em termos das três ocupações da cidade.

Você diz: Estou rico, adquiri riquezas e não preciso de nada. Não reconhece, porém, que é miserável, digno de compaixão, pobre, cego e que está nu. Dou-lhe este aconselho: Compre de mim ouro refinado no fogo e você se tornará rico; compre roupas brancas e vista-se para cobrir a sua vergonhosa nudez; e compre colírio para ungir os seus olhos e poder enxergar.” Apocalipse 3:17-18 (NVI1)

A principal fraqueza da cidade de Laodicéia era a falta de bons suprimentos de água. A água da cidade era proveniente de uma série de cascatas de água salobre proveniente das termas do Hierápolis (águas mornas e muito apreciada pelos turistas). Relatos históricos e as ruínas de Hierápolis não deixam dúvida de que a água termal fluía no primeiro século depois de Cristo. A água morna portanto, era familiar aos laodicenses e descreve corretamente a condição espiritual daquela igreja conforme pretendo demonstrar.

A figura da água morna é fácil de entender, cabe lembrar que a água do Hierápolis além de ser morna, tem mau gosto por seu conteúdo mineral. Esta água é desagradável e produz fortes náuseas. Quem bebia poderia vomitar involuntariamente. No entanto em Hierápolis as águas são quentes e indicadas medicinalmente, mas quando chegam a Laodicéia não são medicinais nem servem para o consumo. Em Colossos a água era cristalina, fresca e potável2. De modo que a cidade de Laodicéia, apesar de possuir muitas fontes de água, precisava comprar água de Colossos. Podemos resumir esta metáfora como sendo a igreja de Laodicéia morna:

  1. Não é quente, termal e medicinal como Hierápolis;

  2. Não é fria, um refrigério para aliviar o calor e a sede das pessoas (como a água de Colossos).

A igreja de Laodicéia não fornecia cura para os espiritualmente enfermos nem refrigério para os espiritualmente cansados. Agora podemos compreender o significado do versículo 16 quando diz “Assim, porque você é morno, nem frio nem quente, estou a ponto de vomitá-lo da minha boca.

Jesus é a encarnação da verdade e fidelidade de Deus, no versículo 14 é chamado de “o Amém”, o uso cristão do amém acrescenta a ideia de que Ele é também cumpridor fiel dos propósitos declarados de Deus. Nesta designação achamos uma contraste singular com a infidelidade dos laodicenses. De igual modo o título o princípio da criação de Deus (verso 14) exalta a Cristo como Criador acima das pequeninas criaturas orgulhosas que se gabam da sua autossuficiência. No versículo 16 encontramos uma censura sem precedentes no Novo Testamento, como expressão do aborrecimento de Jesus Cristo. A referência prende-se ao último juízo (Lucas 13.25-28).

A pretensão dos laodicenses não é apenas que eles de nada precisam, mas que a sua riqueza, tanto moral como material se deve completamente aos seus próprios esforços. Revela-se a sua verdadeira condição de pobreza:

  1. apesar de possuir dinheiro e consequentemente muitas roupas, estavam nus.

  2. havia muitos médicos, mas estavam cegos

Esta igreja é a única de todas as sete, a ser chamada de miserável. O seu recurso é "comprar" de Cristo o ouro fino de um espírito regenerado, de pureza de coração, que possa levá-la à glória da ressurreição (Ap 7.13-14) e da graça pela qual possa apropriar as realidades espirituais. A condição repugnante dos laodicenses não extinguiu o amor de Cristo para com eles; a dura repreensão é a mais sincera expressão do profundo amor de Deus, convocando a igreja de Laodicéia ao arrependimento.

 

Referências Bibliográficas

DOUGLAS, J.D. O Novo Dicionário da Bíblia; Editora Vida Nova, 2006

Bíblia de Estudo NTLH, Sociedade Bíblica do Brasil, Ed. Sbb 2009

SHEED, Russel P; Bíblia Sheed, Ed. Nova Vida, 2007

UNGER, Merrill Frederick. Comentário Bíblico Unger. Editora Vida Nova São Paulo, 2006

1 - NVI – Nova Versão Internacional (Traduzido pela Sociedade Bíblica Internacional)

2 Potável: Que se pode beber. Conforme dicionário Priberam